domingo, 28 de julho de 2024

Vinho: Casal Martins Cabernet Sauvignon Grande Escolha Tejo tinto 2019 (14,5%) | Adega Casal Martins - 9,40 euros

Omnívoros: 86

Anca Poiana é hoje uma grande enóloga e agregadora de terroirs. Conheci-a na sua fase mais experimentalista, quando ainda estava nos anos verdes da sua brilhante carreira enquanto produtora de vinhos e já então procurava vinhas velhas na sua região (Tomar) para construir o matizado de expressões e matizes que tinha dentro da alma. Este vinho representa muito desse labor que incessantemente a fazia sair de casa em busca das uvas ideais. Quem acha que vai encontrar terpenos e pirasinas que sempre tivemos como típicas na casta Cabernet Sauvignon, desengane-se. Aqui há equilíbrio, balsâmicos e vagens verdes, mas ligados a uma matriz mineral e não às prisões vezeiras que encontramos pelo mundo. Fermentou em inox e fez a malolática com a vigilância desta sábia, resultando num vinho copioso e focado, taninos finos e bem domados. Prato: Arroz de pato.

Vinho: Terracota Dão branco 2022 (13%) | No Rules Wines - 50 euros

Omnívoros: 91

É sempre com alguma expectativa que provo um vinho da autoria de Tiago Macena, é o mais empenhado no seu ofício e já elevou o patamar vínico nacional a um nível estratosférico. Prova de que a dedicação vale muito a pena, com todas as forças e aplicação do talento. É notável o seu sentido de vanguarda, através de vinhos que no final são inteiramente consensuais. Uvas provenientes de vinha velha, com a consequente mistura de castas nativas. Fermentação em contacto pelicular total, durante cerca de 2 meses numa talha de barro, estagiando depois sem peliculas durante mais 4 meses. Afinação de três meses em barricas de carvalho francês de 500L No nariz é a um tempo frutado e terroso, numa espécie de dualidade assumida que vai marcar presença também na prova de boca. O enólogo assume a talha como elemento diferenciador em termos de perfil, mas não permite que isso domine o conjunto. Em  vez disso, temos notas frescas e vibrantes de cera de abelha e querosene juntamente com evocações de vagens verdes e flores silvestres. A boca é fascinante pela impressão de força juntamente com extrema elegância. Prato: Linguado gratinado com banana.

sábado, 27 de julho de 2024

Vinho: Herdade Barranco do Vale Reserva Vinhas Velhas Negra Mole Algarve rosé 2023 (12,5%) - 12 euros

Omnívoros: 87

A casta Negra Mole tem vindo a mostrar as suas muitas mais-valias nos vinhedos algarvios, graças ao esforço continuado dos produtores empenhados em demonstrá-las. Este produtor em particular tem-no feito com eficácia nunca deixando os créditos por mãos alheias. Fruta de caroço bem presente, notas balsâmicas e especiadas revelam bom desempenho aromático. Na boca revela excelente acidez fixa, tornando o vinho particularmente apto à boa mesa. Entrada cítrica, meio de boca copioso em notas de bagas de arbusto, e final de boca muito elegante, a terminar longo. Prato: Bacalhau gratinado no forno.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Vinho: Vinha do Altar Reserva Douro branco 2023 (12,5%) | Wine & Soul - 12 euros

Omnívoros: 86

Mais um ano, mais uma série brilhante de vinhos que confirma a Wine & Soul como sublime e séria autora de grandes vinhos. Do planalto duriense de Sabrosa/Fermentões, a 600 metros de altitude, chega-nos esta maravilha das mãos do talentoso casal Sandra Tavares e Jorge Serôdio Borges. Vinha velha de baixa produção, castas tradicionais do Douro, polidas quase individualmente e colhidas no ponto óptimo de maturação fenólica. Prensagem muito suave, estágio sobre as borras finas ao longo de sete meses. Há frescura de todo o conjunto, e há um brilhante grupo de amargos que nos atrai muito neste vinho. Notas terrosas de cogumelos frescos muito atraentes, complexidade a toda a prova. Prato: Jardineira de vitela.

Vinho: Quinta de Ervamoira Douro tinto 2021 (14%) | Adriano Ramos Pinto - 104 euros

Omnívoros: 96

A Quinta de Ervamoira foi outrora um grande campo de experimentação, onde pela primeira vez se definiu o elenco das castas nobres do Douro. Trabalho notável de João Nicolau de Almeida, filho do gigante Fernando Nicolau de Almeida, criador do Barca Velha. A quinta é ainda hoje a pérola do Douro Superior e as suas muitas virtudes permanecem bem vivas e reais. Este vinho é a repetição do milagre que é conseguir obter um resultado tão possante quanto elegante. Selecção rigorosa de uvas da quinta, resultando num lote de Touriga Nacional (83%) e Touriga Franca (17%). Pisa a pé e fermentação em lagares de granito, 18 meses de estágio em barricas e toneis de carvalho francês. Nariz de ameixa preta madura, grafite e sugestões cítricas. Boca incrivelmente macia mas poderosa, crescendo sempre até um final muito equilibrado e floral, com evocações de alcaçuz. Prato: Perdiz estufada com castanhas.

domingo, 21 de julho de 2024

Vinho: Quinta dos Frades Dona Sylvia Grande Reserva Douro tinto 2017 (14,5%) | Quinta dos Frades - 52,30 euros

Omnívoros: 93

Produzido apenas em anos especiais. Trata-se de uma homenagem da família em memória de Sylvia Ferreira, mulher de Delfim Ferreira, o grande impulsionador da história recente da propriedade comprada pelo comendador em 1941. Vinha velha com 23 castas identificadas, predominância de Touriga Franca, Tinta Amarela, Tinta da Barca, Tinta Carvalha, Tinta Francisca, Tinto Cão, Bastardo, Rufete e Donzelinho. Pisa a pé em lagares de granito. Fermentação entre 8 e 12 dias, extracção suave. Estágio de doze meses em barricas novas de carvalho francês, com tosta ligeira. Mínimo de doze meses de estágio em garrafa. Aromas de fruta de caroço cozida, juntamente com impressões de bagas de arbusto e leves toques de madeira. Abre em camadas as mais diversas nuances, revelando muito boa aptidão gastronómica. Taninos muito finos e bem domados. Prato: Rosbife com puré de ervilhas.


Vinho: Quinta dos Frades Grande Reserva Douro tinto 2016 (14,5%) | Quinta dos Frades - 30,50 euros

Omnívoros: 88

É o vinho mais emblemático da quinta e está na linha da grande alma duriense. Anselmo Mendes e Diogo Lopes, enólogos consagrados e de reputação imaculada, trabalharam os seus taninos como filigrana, resultando na sensação fina e sedosa que nos impacta logo que o levamos à boca. Mineral - pedra molhada - e frutado - ameixa cozida - compõem o perfil aromático, denunciado a presença de vinha velha, neste caso centenária. 23 castas identificadas, predominância de Touriga Franca, Tinta Amarela, Tinta da Barca, Tinta Carvalha, Tinta Francisca, Tinto Cão, Bastardo, Rufete e Donzelinho. Doze meses de estágio  em barricas novas de carvalho francês, mínimo de 12 meses de estágio em garrafa. Prato: Perdiz estufada com castanhas.

Vinho: Quinta dos Frades Vinha dos Deuses Reserva Douro tinto 2019 (14%) | Quinta dos Frades - 15,50 euros

Omnívoros: 86

Quem faz o troço da N-222 entre Régua e Pinhão, passa por esta quinta, uma das mais antigas de todo o vale vinhateiro do Douro. É particularmente emblemática a torre fortificada, evocativa de outros tempos. O Vinha dos Deuses é um vinho democrático e capaz. Touriga Franca (40%), Touriga Nacional (20%), Tinta Roriz (10%) e mistura de castas tradicionais do Douro (30%). Fermentação, malolática e estágio inicial feitos em inox. Segue-se o estágio de doze meses em barricas de carvalho francês e o mínimo de 12 meses de estágio em garrafa. Fino e fresco. Nariz pronunciadamente cítrico, com laivos de violetas. Na boca, há muito equilíbrio e a estrutura, sendo simples mostra-se capaz de abordar o desafio da mesa clássica. Está aqui um tinto verdadeiramente multiusos que podemos e devemos ter sempre à mão. Prato: Vitela assada.

sábado, 20 de julho de 2024

Vinho: Howard's Folly Cristina Alentejo tinto 2019 (13,5%) | Hill Valley - 70 euros

Omnívoros: 91

Vem do Alentejo mas ninguém diria, tal a mineralidade e frescura que apresenta. Cristina Francisquinho, sábia e inspirada, trabalha com David Baverstock desde o início deste projecto. Foi certo dia surpreendida pela pergunta do mentor e proprietário Howard Bilton, sobre qual seria a vinha de que mais gostava. Mas não se fez rogada, respondeu de imediato que era a Vinha da Jacinta, na Serra de São Mamede. Field blend de 700 metros de altitude, cepas com mais de cem anos. Trabalho conjunto de Cristina - que acabou por lavrar o seu nome no novo topo de gama da casa -, Pedro Furriel, enólogo residente e o grande David Baverstock, amante e conhecedor profundo dos microterroirs do Alentejo. Nariz de caruma verde e fruta de arbusto madura, boca incrivelmente fresca e especiada, persistência notável. Para provar e beber muito devagar, ligeiramente refrescado (16ºC). Prato: Cabrito estufado.

Vinho: Galatrixa Madeirense branco 2022 (12%) | Octávio Freitas Winery - 45 euros

 

Omnívoros: 91

Segunda edição do Galatrixa, mantendo bem alta a fasquia de qualidade e prazer a beber. Produzido a partir das castas Verdelho, Malvasia Fina e Folgasão. Fermentação e estágio em inox. No nariz é cítrico e floral, com notas de mel. Na boca apresenta deliciosos travos de evolução, evocativos de folha de eucalipto e cera de abelha. Copioso em todas as fases da prova, tanto serve para acompanhar queijos como pratos gratinados diversos. Prato: Arroz de lapas.

Vinho: Cagarra Madeirense branco 2022 (11,5%) | Octávio Freitas Winery - 45 euros

Omnívoros: 92

Produzido a partir de uvas sercial e verdelho, acidez invejável, cerca de 10 g/L em tartárico, o que é notável e deve-se sobretudo à Sercial. Fermentação em inox, estágio em contato com aparas pouco tostadas de carvalho francês sobre as borras finas. O verdelho confere um lado copioso ao vinho, juntamente com notas florais, que acrescentam interesse e prazer ao conjunto. Forte vocação gastronómica, vai acrescentar complexidade em garrafa por mais uns anos. O problema vai ser resistir-lhe em cave. Prato: Linguado gratinado com trufas.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Vinho: Quinta dos Bons Ares Douro branco 2023 (13%) | Adriano Ramos Pinto - 11,50 euros

Omnívoros: 86

Uvas do Douro Superior, em Foz Côa, a cerca de 600 metros de altitude, solos graníticos. Frescura, por isso a toda a prova. Os encepamentos presentes são Sauvignon Blanc (40%), Rabigato (30%) e Viosinho (30%), selecção rigorosa de uvas. 90% do vinho foi vinificado em inox, enquanto os restantes 10% foram fermentados em barricas de carvalho francês e austríaco de diferentes capacidades, aí estagiando ao longo de cerca de oito meses. Notas aromáticas de vagens verdes, limão e tomilho fresco. Na boca revela acidez fixa pronunciada, alcaçuz e balsâmicos evocativos de folha de eucalipto. Final longo e fresco. Prato: Alheira de Mirandela grelhada.

Vinho: Rumo Lumina Arinto Alentejo branco 2022 (12,5%) | Rumo - 31 euros

Omnívoros: 94

Estamos perante um Arinto (85%) de absoluta excelência, vinificado sem qualquer controlo de temperatura, juntamente com Roupeiro. Fermentação em barrica, seguindo-se estágio de 12 meses. Mais minimalista é difícil de conceber e mesmo assim não é esse o aspecto mais interessante. É que o vinho é fantástico e impressiona em todas as frentes. A fruta de caroço surge aliada a impressões terrosas e de pedra molhada. A boca mostra um grupo de amargos uno e forte. E o final de prova é longo, muito longo, terminando em flores silvestres. Trabalho enológico de António Maçanita que deixa qualquer enófilo sem palavras. Atitude e força notáveis de António Antunes e sua mulher Marta, no seu novo projecto, que ainda nos vai dar muitas alegrias. Prato: Pregado frito com alcaparras.

Vinho: Rumo Incerto Vinha Velha Reserva Alentejo tinto 2022 (14%) | Rumo - 31 euros

Omnívoros: 90

O nome Incerto pode parecer enigmático mas o mistério depressa se desvanece quando se atenta nos seus detalhes de produção. Conjuga dois tipos de estágio entre si - barrica e talha - e isso dá-lhe um charme acrescido que faz as delícias dos enófilos amantes da novidade. É ao mesmo tempo um desafio aos acérrimos defensores da assépsia só por si, sem qualquer tolerância a desvios. Estágio de 16 meses em barricas de carvalho francês e 70% estagiou em talhas antigas alentejanas. Castas Alicante Bouschet, Castelão e Trincadeira. Há um ambiente a um tempo rústico e cativante na prova deste vinho que o torna inesquecível. Muito estável na boca, é toda uma aventura de complexidade e exploração por camadas encadeadas entre si. Prato: Ensopado de borrego.

sábado, 13 de julho de 2024

Vinho: Tejo Ode rosé 2023 (12%) | Planeurimo - 21 euros

Omnívoros: 86

Este rosé é composto por Touriga Nacional (50%) fermentado em inox e Pinot Gris (50%) fermentado em barricas de carvalho francês de segundo ano. Quase caímos na tentação da fruta primária tipo morangos e cerejas, mas quando entramos mais nele percebemos que há mais, muito mais para explorar. A enóloga Maria Vicente criou um ambiente de grande complexidade numa categoria de vinho que normalmente se inscreve como festivo, ou "vin de soif". Chegamos-lhe uma massa italiana e percebemos do que ele é capaz. Muito equilibrado e sofisticado, está aqui um vinho pronto para altos voos culinários. Prato: Esparguete com bottarga de atum.

Vinho: Cazas Novas Origem Avesso Verdes branco 2022 (13%) | Soc. Agr. Casal de Ventozela - 22 euros

Omnívoros: 89

Fermentação em inox. Passagem e estágio das uvas das melhores parcelas de Avesso em barricas de 400L de carvalho francês. Vinhas de encosta, na transição que é conhecida como Douro Verde, quando o rio corre veloz em direcção à sua foz. Muita frescura, notas de vagens verdes e flores brancas e ao mesmo tempo impressões terrosas e de trufas. Longo e equilibrado em todos os momentos da prova. É um dos melhores vinhos Avesso da actualidade. Prato: Jardineira de vitela.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Vinho: Bojador Vinho de Talha Alentejo tinto 2023 (13%) | Espaço Rural - 42 euros

Omnívoros: 90

O tempo voa. A primeira edição deste título aconteceu em 2012, por iniciativa de Pedro Ribeiro, um dos mestres modernos das artes vínicas e um dos seus autores mais desinstalados. Foi lançado em todos os anos consecutivos, o que me surpreendeu, que acompanho a marca desde o primeiro instante. Não cabe aqui comentar sobre o que era então, mas há que reconhecer que a versão actual é de uma incrível elegância e aprumo técnico. As notas terrosas de fundo permanecem, mas sem a carga rústica que encontramos em quase todos os vinhos de talha ditos modernos. As castas Trincadeira, Moreto e Tinta Grossa compõem um lote harmonioso e fino e promovem fruta fresca - ginja - como elemento de proa. Fermentação em talhas de barro, respeitando as técnicas ancestrais e utilizando apenas leveduras indígenas. Estágio de dois meses em garrafa. Prato: Perdiz estufada com castanhas.

Vinho: Casa Amarela Reserva branco 2023 (13,5%) | Quinta da Casa Amarela - 17,50 euros

Omnívoros: 92

Mais um ajuste de trajectória neste produtor, que no caso trouxe inegáveis vantagens. É um pouco como começar pelo fim, mas assim o mais importante fica dito. O Douro merece e precisa de brancos como este para demonstrar verdadeiramente a sua liderança. Estamos perante um branco de gabarito, produzido a partir de uvas próprias das castas Viosinho, Rabigato e Malvasia Fina. 80% do lote fermentou em inox, o restante em barricas novas de carvalho francês. O resultado é este vinho viril e ao mesmo tempo elegante, grupo de amargos bem trabalhado, a contribuir para a grande complexidade do conjunto. Está de parabéns João Pissarra, que com esta colheita se estreia na casa e cuja tarimba dispensa apresentações. Prato: Caril de lulas.

Vinho: Tapada da Fonte Touriga Nacional Alentejo tinto 2023 (14%) | Pista Wines - 18,50 euros

Omnívoros: 87

Um estreme de Touriga Nacional que mostra um Alentejo diferente, mais elegância que força, como hoje se pretende. António Pista é um empresário muito especial a vários títulos, por duas razões principais: a sua correcção e o seu conhecimento enológico. O vinho revela-se cítrico no nariz, aspecto patrimonial da casta de que é feito e copioso na boca, formando um todo de grande elegância e aptidão gastronómica. Comprimento de boca apreciável, rico em matizes de sabor e textura. Prato: Pato assado com laranja.

Vinho: Nosso Sauvignon Grande Reserva Douro branco 2021 (13%) | Clube Nosso - 14,50 euros

Omnívoros: 88

O meu primeiro contacto com a casta Sauvignon Blanc foi no primeiro curso de iniciação à prova de vinhos, que fiz muito a medo mas acabou por se revelar fundadora. Um dos muitos disparates que foi dito foi que o aroma de xixi de gato é típico da casta e é por isso uma forma de a identificar às cegas. Foi em 1991 e sabia-se muito pouco de vinhos em geral e defeitos em particular. A aprendizagem felizmente prossegue pela vida fora e cedo descobri que a tal tipicidade tinha a ver com a presença de terpenos mais ou menos pungentes e que num bom exemplar de Sauvignon Blanc não deveriam estar demasiado presentes e sobretudo não se deviam sobrepor às notas frutadas, florais e terrosas. Tudo isto me veio à cabeça pela extrema elegância que passei a esperar e encontrei neste exemplar maravilhoso, da lavra de José Carlos Fernandes. Amante ele próprio da casta, trabalhou com ela no Palácio de Mateus, numa vinha que veio a inspirar o best-seller que é hoje o Sauvignon Blanc da Lavradores de Feitoria. O que quero destacar é a notável postura enológica neste exemplar, que tendo embora notas terpénicas de evocação tropical, não toca sequer na orla do defeito, antes compõe um certo colorido rico de sensações. Na boca é discreto e ao mesmo tempo intenso, notas de fruta branca e vagens verdes. Complexidade e aptidão para a mesa, a passagem por barrica de carvalho francês assegurou-lhe exactamente isso, e final de boca suave e longo, à maneira do pianíssimo de um coral de Mahler. Prato: Ceviche.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Vinho: Kopke São Luiz Winemaker's Collection Tinto Cão Douro rosé 2023 (12,5%) | Sogevinus - 22 euros

Omnívoros: 93

Uvas Tinto Cão da Quinta de São Luiz, cota cerca de 400 metros. 80% do lote fermentou em inox e os restantes 20% em barricas usadas. No fim da fermentação alcoólica, o lote final estagiou seis meses em inox com bâtonnage semanal. Trabalho de Ourives de Ricardo Macedo, revelando conhecimento profundo da casta. Aromas florais e de ameixa preta cozida, boca a surpreender pela força e equilíbrio. Comprimento impressionante, para terminar mineral e rico. Prato: Caril de frango à goesa.

Vinho: Pedro Milanos rosé 2023 (13%) | Luísa Valente - 15 euros

Omnívoros: 83

Uvas provenientes da Quinta Senhora da Graça, graciosamente debruçadas sobre o Douro. As castas Tinta Barroca e Touriga Nacional, vinificadas em inox com bâtonnage periódica apresentam-se com grande pujança aromática e cor rosada ligeira. Na boca o comportamento é intenso com alguma complexidade. Comprimento apreciável, final de boca cítrico e floral, graças à frescura - acidez e estrtutura - bem construída. Prato: Esparguete com amêijoas.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Vinho: Duas Quintas Douro tinto 2022 (13%) | Adriano Ramos Pinto - 15 euros

Omnívoros: 91

Há marcas de vinho cuja história e resiliência transcendem e desafiam a objectividade. Em mais de 35 anos de carreira, não me lembro de não haver Duas Quintas. Recordo-me dos Reserva 91 e 92, absolutamente magistrais e de como isso me fez ficar fã do Duas Quintas "simples". Este de 2022 é um tratado de elegância, harmonia e sobretudo excelente enologia, sobretudo face ao ano repleto de adversidades.  O nome decorre das duas quintas do Douro Superior de que provém: Quinta dos Bons Ares (600 metros de altitude) e Quinta da Ervamoira (150 metros). Só por si, este facto dá já uma ideia da complexidade a um tempo frutada e mineral que o vinho disponibiliza, mas vai mais além, e é de facto um regalo no copo e à mesa. Encepamentos de Touriga Nacional (56%), Touriga Franca/Francesa (23%) e outras castas típicas do Douro (21%). vinificação em perfis diversos, como lagares de granito, balseiros, cubas de betão e cubas inox, dependendo das castas e origem. Após a fermentação maloláctica, 20% estagia em barricas de carvalho francês, 30% em toneis e balseiros do mesmo tempo de madeira e 50% em inox, ao longo de cerca de doze meses. Tudo neste vinho é a um tempo intenso e elegante, e por isso mesmo, sedutor. Taninos muito finos, acidez correcta e forte aptidão para a mesa. Prato: Vitela assada.

domingo, 7 de julho de 2024

Vinho: Pedro Milanos Douro branco 2023 (14%) | Luísa Valente - 15 euros

Omnívoros: 87

É desarmante a abordagem que o enólogo Vasco Valente Lopes faz a cada novo vinho que cria. O seu espaço de liberdade é o das maravilhosas vinhas da sua Quinta Senhora da Graça, que namoram o Douro com total volúpia e rendição. Produzido a partir de uvas próprias das castas Arinto, Viosinho, Códega e Malvasia Fina, este branco fermentou e estagiou em inox sobre as borras finas, com bâtonnage periódica. Notas aromáticas muito rigorosas e bem definidas, evocativas de malmequeres, nêspera e ligeiro mentolado. Na boca é muito fino e delicado, revelando bom poder de resolução graças a uma acidez bem urdida, Muito fresco em todas as fases da prova, final longo e frutado. Prato: Bacalhau à Conde da Guarda.

Vinho: Esporão Reserva Alentejo branco 2023 (14%) | Esporão - 19 euros



Omnívoros: 90

O lote de castas escolhido não surpreende: Antão Vaz, Arinto e Roupeiro. Assinatura bem alentejana, trabalho de estágio misto inox e barrica, com uma surpreendente elegância e fantástica integração. Sente-se ainda a presença de madeira, tanto no nariz como na boca, através de notas de fumo, baunilha e amanteigados. Eminentemente cítrico no nariz, na boca mostra notas exuberantes de diospiro maduro e ananás. Comprimento apreciável, termina longo em flores silvestres e gengibre. Prato: Sopa de tomate à alentejana com todos.

Vinho: Mainova Verdelho Alentejo branco 2023 (12,5%) | Mainova - 13 euros

Omnívoros: 88

Um estreme de Verdelho com uma acidez bem urdida, expressão do terroir bem alentejano. António Maçanita e Sandra Sárria conhecem bem as cepas e os solos deste projecto único e que nos tem dado tantas alegrias. Bárbara Monteiro é a gestora do projecto e ao mesmo tempo a principal entusiasta. Aromas eminentemente cítricos complementados por notas de vagens verdes, frescura não falta. Na boca revela uma excelente acidez, pouco frequente nos solos alentejanos. O vinho está por isso capaz de desafios de monta, desde o simples petisco até ao prato mais elaborado. Prato: Ensopado de borrego.

sábado, 6 de julho de 2024

Vinho: Burmester Ensaio N.º01 Douro branco 2023 (13%) | Sogevinus - 10 euros

Omnívoros: 86
Início de uma nova linha de vinhos com a chancela Sogevinus, com a habitual batuta enológica de Ricardo Macedo. O racional por detrás da nova família é reunir castas contrastantes num mesmo vinho. Alvarinho (65%)  e Sercial (35%) são as castas eleitas para esta primeira edição, numa junção muito feliz. Uvas provenientes de vinhas de cotas entre 400 e 500 metros, regiões Douro Superior e Cima Corgo. Fermentação estágio nas borras finas em inox ao longo de 25 dias. No nariz é copioso nas notas tropicais e cítricas, enquanto na boca se mostra austero e com sugestões de fruta branca cozida. Belíssima frescura. Prato: Sushi.