terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Vinho: Listrão dos Profetas Vinho da Corda Porto Santo branco 2020 (14%) | Fitapreta

Classificação Omnívoros: 91
PVP: 52 euros
100% Listrão, também conhecida como Listão branco ou Palomino Fino. Trabalho conjunto de António Maçanita com Nuno Faria (madeirense e sócio do Grupo 100 Maneiras). Amarelo alaranjado. Aromas de pedra molhada, grafite e cravos frescos. Sente-se notas de flor como em xerez, evocando o estilo da manzanilla espanhola. Boca séria e apta à boa mesa portuguesa, comprimento e copiosidade acentuados. Prato: Cozido à portuguesa.

Vinho: Listrão dos Profetas Porto Santo branco 2020 (14%) | Fitapreta

Classificação Omnívoros: 88
PVP: 52 euros
100% Listrão, também conhecida como Listão branco ou Palomino Fino. Trabalho conjunto de António Maçanita com Nuno Faria (madeirense e sócio do Grupo 100 Maneiras). Amarelo carregado. Aromas de iodo, malmequeres e pedra molhada. Boca cítrica e mineral, a evocar impressões salinas. Muito equilibrado, evolui graciosamente até ao final que é longo e persistente. Prato: Polvo à lagareiro.

Vinho: Ravasqueira Vinha das Romãs Blanc de Noirs Alentejo 2020 (12,5%) | Soc. Agr. D. Diniz

Classificação Omnívoros: 86
PVP: 18 euros
Touriga Franca e Syrah. Vinificação em branco, extracção directa da polpa, branca em ambos os casos apesar de se tratar de castas tintas. Estágio de 20 meses em barricas novas de carvalho francês. Amarelo nacarado, reflexos dourados e esverdeados. Aromas de melão maduro, fruta branca de caroço e dióspiro. Boca copiosa, a evocar fruta de arbusto e azeitonas verdes. Comportamento relativamente unidimensional, a mostrar boa acidez fixa, comprimento apreciável, terminando fino e complexo. Prato: Caril de frango à moda de Goa.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Vinho: Ravasqueira Vinha das Romãs Alentejo tinto 2019 (14,5%) | Soc. Agr. D. Diniz

Classificação Omnívoros: 93
PVP: 18 euros
Touriga Franca e Syrah. 20 meses de estágio em barricas novas de carvalho francês. Granada profundo, orla e reflexos rubi. Aromas de ameixa cozida, balsâmicos mentolados, em fundo de tapenade de azeitona preta. Boca de frescura acentuada, sintonia concertada de taninos e acidez. Desenvolve uma prancha aromática que vai desde a fruta citrina até ao alcaçuz, passando por uma incursão salina que marca o conjunto. É provavelmente o mais conseguido Vinha das Romãs até hoje. Prato: Lebre com feijão.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Vinho: Quinta dos Murças Reserva tinto 2016 (13,5%) | Murças

Classificação Omnívoros: 87
PVP: 23 euros
Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca, Touriga Nacional, Touriga Franca e Sousão. Uvas das vinhas mais velhas da quinta - cerca de 40 anos -, cotas entre 150m e 280m. Fermentação em lagares de granito, pisa a pé e prensagem numa antiga prensa vertical. Estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês. Frutado intenso, notas de fruta de arbusto madura, citrinos e gengibre. Boca estável e fresca, equilíbrio entre taninos e acidez, desenvolvendo notas balsâmicas de caruma de pinheiro, complementadas por impressões de alcaçuz. Final longo e equilibrado. Prato: Cabrito assado.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Vinho: Cerval Douro tinto 2015 (13%) | Casa d'Arrochella

Classificação Omnívoros: 96
PVP: 37 euros

Sousão, Alicante Bouschet, Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinto Cão. Uvas da Vinha do Cerval,  em Vila Nova de Foz Côa. Estágio 18 meses em barricas de carvalho francês. Engarrafamento em Nov/2017. Grande muito profundo, quase opaco, reflexos rubi. Aromas de ameixa cozida, raspa de toranja e trufa negra. Boca poderosa, muito equilibrada em todas as fases da prova e em que nunca a carga tânica - que é grande - se pronuncia mais do que a frescura do conjunto. Estamos perante um grande vinho, em que a evolução está numa fase de frescura, o que é notável. Final muito longo e equilibrado. Prato: Galinhola.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Ensaio: Só as trufas são trufas



Vivemos imersos num contínuo de recordes e campeonatos e no que toca a alimentos raros e caros nós, humanos, somos exímios. Itália, Sérvia e Croácia produzem “tuber magnatum pico” de excelsa categoria que podem custar 7 mil euros por quilo no tamanho é o normal ou muito mais quando são grandes. A famosa trufa branca é mesmo um regalo e a preta não lhe fica atrás.


Uma trufa não é um fungo, mas o fruto de um fungo. Melhor ainda, é uma excrescência da raíz de algumas árvores. Encolhem os ombros os que acham que se trata de um preciosismo de linguagem e escandalizam-se quando se lhes pergunta se uma maçã é uma árvore. Claro que não. Temos o caviar e o foie gras em boa conta e pagamos valores chorudos por ambos mas também pouco sabemos sobre eles, menos ainda o que queremos saber. O luxo tem essa ambivalência em quase todas as frentes, deseja-se mas abandona-se depois da estaca da conquista. A fina e delicada rede de microfilamentos que vive no mundo subterrâneo das raízes alimenta vagarosamente e de forma sustentada alguns fungos e a esmagadora maioria frutifica à superfície, na forma de cogumelos. Alguns - muito poucos - frutificam debaixo de terra e é aí que temos as trufas. Pretas - tuber melanosporum - ou brancas - tuber magnatum pico -, os antigos reconheciam-lhes poderes sobrenaturais e inebriantes, para os romanos eram um afrodisíaco, depois da introdução da batata na alimentação chegaram a ser conhecidas como batatas malcheirosas e de há um século para cá são alimento muito desejado e apreciado pela élite gourmet. O conhecido cheiro a gás enlouquece os animais, outrora as porcas hoje os cães treinados dão com elas só pelo aroma. Onde apontam, escava-se um pouco e lá estão os pequenos ou grandes frutos, em jeito de recompensa. Em Alba, no Piemonte, Itália, há no final de Outubro um festival que o país elevou a símbolo universal da trufa branca, com honras de estado e leilão global. Isso não quer contudo dizer que só naquele pedaço de território há trufas brancas, na verdade existem em todo o mundo. Os aborígenes australianos, por exemplo, consumiam-nas avidamente e eram extraídas das raízes dos eucaliptos. Sérvia e Croácia são palco tanto ou mais importante da trufa branca do que Itália, de resto muitas trufas que entram no mercado pela porta grande provêm dali, o receituário desses países nos capítulos da caça e fundos de cozinha não deixa margem para dúvidas; há séculos que a trufa existe e é apreciada. As razões de mercado naturalmente asfixiam outras denominações que não Alba, mas nalgum ponto o assunto há-de passar a público. Para já a DO Alba permite a certificação de trufas brancas oriundas da Croácia e não são melhores nem piores, são apenas diferentes.

Para nós a trufa preta já faz maravilhas e devemos-lhe glórias diversas, a que só não acrescentamos porque o torpor intelectual não permite. E se temos boa trufa preta! Sei que estou sempre a marrar na mesma tábua, mas a trufa preta laminada introduzida entre a pele e a carne de um capão põe-nos em estado de graça e faz do galaró mudo um rei. A preparação da polémica perdiz à convento de Alcântara assenta na trufa preta e no foie gras logo desde o início da marinada de dois dias em vinho do Porto. Ovos mexidos com trufa preta são mais saborosos do que o clássico ovo escalfado com trufa branca, que de qualquer forma adoro. E um consomé de aves e trufa preta é o melhor amigo de um Madeira sercial. O assunto da trufa branca é eminentemente aromático, é inútil utilizá-la para cozeduras longas. É por isso que compramos azeites ou óleos vegetais trufados, directa ou indirectamente, já que um risoto anunciado por um restaurante com trufas não tem mais do que umas gotas desses concentrados de aromas, mas isso é outra conversa. A luta pela autenticidade não tem tréguas mas nem sempre temos a arma da informação para a combater. Vamo-nos regalando com o que vai acontecendo pela mão de alguns chefs e vamos fazendo as nossas próprias descobertas. Troou recentemente a notícia da trufa branca de mais de um quilo comprada pelo chef e empresário Tanka Sapkota, no Come Prima, em Lisboa. Fui vê-la e prová-la, nos pratos standard do ovo estrelado e linguini, laminada na hora. Dimensão impressionante, tinha de se segurar com as duas mãos. Uma boa trufa branca  pesa algumas dezenas de gramas apenas e custa entre 4 e 7 mil euros o quilo. Daquele fruto gigante não chegou a ser revelado o preço mas barato não foi. A minha primeira refeição formal de trufas brancas em Portugal aconteceu pela mão do chef Franco Luise no Cipriani, restaurante do Lapa Palace em Lisboa, em meados dos anos 90. A primeira experiência em termos absolutos foi em Florença, no triestrelado Enoteca Pinchiorri, não deixou grande memória, ao passo que a experiência com Franco Luise foi a melhor de todas até hoje. Ficou-nos a 25 contos - 25 mil escudos, lembram-se? - a cada um, um valor elevado, especialmente naquela altura, mas que nunca lamentei. Achei na altura o que se veio a confirmar, uma experiência irrepetível. No JNcQUOI, em Lisboa, o chef António Bóia subiu a fasquia no jantar de trufas brancas da sua lavra, talante culinário de enorme nível. Senti particular conforto por um homem do produto português que sabemos que ele é dar trono por uns dias a um clássico mundial e universal da alimentação. Trufa é trufa!


Bechamelo (Fev/19) | Grandes Escolhas


Vinho: Sacrifício Grande Reserva Setúbal tinto 2019 (15%) | Gonçalo Carapeto

Classificação Omnívoros: 86
PVP: 25 euros
Syrah e Touriga Nacional. Estágio de 10 meses em barricas de carvalho francês. Granada profundo, reflexos rubi. Aromas cítricos no primeiro contacto aromático, orlados por notas de tapenade de azeitona preta. Boca vigorosa e fresca, a acentuar as tonalidades terra sentidas inicialmente no nariz. Boa integração e frescura acentuada do conjunto, a mostrar-se uno e coeso. Final longo e fresco. Prato: Ensopado de borrego.

Vinho: Herdade Barranco do Vale Sauvignon Blanc Reserva Algarve branco 2020 (13%) | HBV

Classificação Omnívoros: 88
PVP: 12 euros
100% Sauvignon Blanc. Amarelo nacarado, reflexos dourados. Nariz muito floral, notas cítricas e de manga verde, a renunciar ao vezeiro terpeno sentido quando a casta não foi respeitada no seu ponto de maturação fenólica e concentração ideais. Boca a evoluir em frescura, criando uma atmosfera gastronómica que vocaciona o vinho para pratos de maior complexidade. Final longo e rico. Prato: Sushi.