Gafanha da Encarnação
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Costa Nova
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A vida de enguia não é fácil. Começa os seus primeiros dias de vida no Mar de Sargaços, centro atlântico de desova dos esguios e longilíneos peixes. Ali acorrem, vindos de todos os rios europeus e norte-americanos que albergam as enguias crescidas, para depositar os seus ovos. Não admira, já que é um verdadeiro oásis tropical, rico em algas – sargaços –, particularmente salgado, e a temperatura das suas águas ronda os 28ºC. O ponto nevrálgico da imensa ilha verde flutuante é na orla do Golfo do México e a sua mancha estende-se por mais de 3 mil quilómetros para norte, numa largura de mais de mil. Com apenas 1 cm de comprimento, lá vêm então os peixanitos pelo Atlântico fora, para em águas portuguesas se deterem nos nossos estuários. Os casos mais notáveis são a Ria Formosa, no Algarve, e a Ria de Aveiro. Quando cá chegam já vêm com cerca de 3 cm. Virtude da transição água salgada/água doce e também da densidade e qualidade dos nutrientes presentes nesta última, ali ficam a gozar as águas da grande bacia ponteada por Ovar, Estarreja, Murtosa, Costa Nova e Aveiro. Uma espécie de Las Vegas para enguias, onde tudo existe em abundância. O exercício físico e os diferentes habitats atravessados até chegarem a nós são, só por si, factores diferenciadores destes peixes únicos, que muitos erradamente confundem com répteis ou lampreias. Depois, a sua carne saborosa presta-se a manipulações culinárias diversas, todas elas um regalo quando bem executadas, convertendo muitos à enguia. E, finalmente, torna-se difícil estar naquela grande e profícua ria sem sequer ter a inclinação de saber o que se faz por ali a partir das enguias. A popularidade entre os locais é grande, há restaurantes que executam bem e a qualidade média não está mal.
Fomos confirmá-lo à Costa Nova, destino estival fronteiro a Aveiro, instalada na língua que separa o mar da ria. Adriano Ferreira abriu-nos as portas do seu restaurante, Praia do Tubarão, uma das casas outrora propriedade de pescadores e hoje, quando a nós, referência da cozinha da sua região. Reconhece-se bem o local, pelo casario de madeira pintado com listas coloridas verticais ou horizontais. Estão hoje com um aspecto imaculado e algumas delas albergam restaurantes. O Praia do Tubarão funciona numa sala pequena no piso térreo e dispõe de esplanada de onde se vê a ria e quem passa pela estrada marginal. Adriano Ferreira é da Mealhada mas a sua mulher é da Costa Nova, pelo que é bom de ver o que aconteceu. Casaram e ficaram, trabalhando ambos alguns anos na Marisqueira da Costa Nova, onde aprenderam o ofício como poucos. Chegada a altura da autonomização, o casal não teve dúvidas. Nasceu assim o Praia do Tubarão, nome que se deve “à necessidade de ter um nome que não há em mais lado nenhum”. Nome, e lugar, porque este Tubarão tem muitos atributos positivos.
Caldeirada de Enguias – Feita segundo a tradição da verdadeira caldeirada. Normalmente confundida com a variante “fragateira”, a caldeirada comporta apenas uma proteína animal, quando a interpretação popular mais vulgar é de que leva vários tipos de peixe. Outra diferença é a diminuta quantidade de água que leva. A montagem na panela é em camadas alternadas de enguias cortadas em bocados, batata e cebola.
Enguias fritas – A frescura do peixe é tudo, o que, estando nós onde estamos, é assunto resolvido a priori. A preparação das enguias é o aspecto mais complicado, já que a fritura se resume à passagem por um polme de farinha, seguida do processamento a temperatura elevada.
Ensopado de Peixe – Mistura caldosa ligada que tem o peixe como base. Constitui uma variante de sabor e tem muitos adeptos no Praia do Tubarão.
Peixe frito com Arroz de Berbigão – Arroz tradicional, feito com miolo de berbigão e caldo de cozedura de peixes e mariscos. Importa deixá-lo malandrinho, molhado. Acompanha depois o peixe frito, previamente passado em polme de farinha.
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