Dizem que só a partir de uma certa idade se começa verdadeiramente a apreciar champagne. Dado que já não sou novo há tempo demasiado velho, pode ser isso. Mas desta prova não me esqueço.
É melhor explicar antes de mostrar as notas de prova de champagnes Gosset que a Wine o’Clock promoveu no passado dia 15 de Fevereiro, na sua loja de Lisboa. É que, para mim, num vinho como numa pessoa, o que mais me impressiona no primeiro contacto é o que nele é diferente. Cumpridos os requisitos mínimos, claro; de qualidade, falo.
Foi dito, para começar, que a Gosset é a mais antiga casa produtora de vinhos na região de Champagne. 1584. É preciso fazer aqui a ressalva de que a casa que nasceu em Ay produzia vinhos tintos. Depois, os tempos mudaram, os proprietários também – chegou a fazer parte do património da coroa francesa – e hoje, gerida por Jean-Michel Cointreau – não confundir com o licor do mesmo nome -, de resto tal como os Cognacs Frapin, depois do seu grupo ter comprado a operação das bolhinhas em 1994, a casa está na calha da afirmação definitiva como... alternativa séria ao mainstream. Numa altura em que o mercado está inundado de Moet & Chandon e Dom Pérignon, isto para mim é mais que bem-vindo. As vinhas exploradas pela Gosset distribuem-se por Ay e Épernay, e as uvas que estão na base dos champagnes da marca são Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.
15,5 – Brut Excellence NV – Cordão rápido, solto, bolha média. Muita fruta de caroço na entrada de boca, notórios a frescura e algum açúcar, e sobretudo um prolongamento muito aceitável. Final de prova rico e cheio. Está aqui um belíssimo vinho de aperitivo. (34€)
16,5 – Grande Reserve MV – O MV quer dizer multi-vintage, e denuncia a composição do champagne proveniente de várias colheitas. Cordão médio, muito ligado, com bolha muito fina. Apresenta alguns fumados no aroma, juntamente com toques leves de brioche. Comprimento interessante, mais rústico que o anterior mas com mais raça. (45€)
18 – Grand Rosé NV – Bolha muito fina, cordão rápido e ligado. Aromas de manteiga, flores e ligeira tosta. Toranja, ameixa, toques de framboesa (!). Verdadeiramente impressionante. (52,50€)
17,5 – Grande Millésime 2000 – Aqui entramos nos vinhos especiais da casa, quando as coisas se começam a definir. Notas de aromas de salva, tomilho fresco, algum aniz. Boca com fruta fresca, chegando quase a mostrar fruta escura! Bom comprimento de boca, maturidade, conjunto de excelência. (59,50€)
18,5 – Celebris Rosé 2003 – Bolha muito fina, em cordão múltiplo rápido e persistente. Aromas de framboesa, flores e brioche, com laivos atraentes de toranja. Comprimento de prova todo ele a revelar elegância. Coup-de-coeur. (130€)
18 – Celebris Blanc de Blancs – Bolha extremamente fina. Cordão bastante rápido. Muito potente na boca, com maçã verde, melão e no final muita especiaria. Absolutamente fascinante – e diferente -, uma grande e grata surpresa, a enriquecer a minha galeria de champagnes de uvas brancas. (130€)
19 – Celebris Vintage Extra Brut 1998 – Poderoso e ao mesmo tempo atraente pela sua elegância. Difícil escrever notas de prova, mas há muita fruta branca, folhas aromáticas verdes, tudo em finesse e integração. Foi o campeão absoluto da prova. (130€)
No final, quis comprar uma garrafa de Celebris Rosé 2003. Não havia. Então, quero comprar 6 flutes Riedel. Também não. Então vá, seguimos para o 100 Maneiras Bistro, de Ljubomir Stanisicz. Não quero aqui falar da harmonização dos vinhos com a comida, mas devia, até porque as coisas não foram mal pensadas. Mas houve demasiados factores que perturbaram a sequência de pratos; talvez excesso de exuberância e complicação, porque cada prato demorou eternidades a vir e não fomos todos servidos ao mesmo tempo. Como sei que vou voltar, até para conversar com o ainda jovem chefe, deixo as minhas impressões sólidas para depois.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.